Vem da biodiversidade marinha uma nova e potente arma contra os vírus de doenças como a febre amarela e a hepatite.
Trata-se de uma molécula que impede que os vilões microscópicos consigam grudar nas células que atacam, dificultando infecções.
O resultado não seria uma vacina contra os vírus, mas um medicamento potente, capaz de enfrentar os primeiros ataques virais contra o organismo e rebatê-los, reduzindo muito a chance de problemas de saúde para o doente.
A substância protetora é a squalamina, assim batizada por causa do pequeno tubarãoSqualus acanthias, que mede 1 m de comprimento. Ela também é encontrada no sistema de defesa do organismo de uma lampreia (estranho peixe cuja boca parece uma ventosa).
Contra uma série de vírus, entre os quais o da febre amarela e o da hepatite B, injeções de squalamina chegaram até a zerar a contagem viral (ou seja, o número de vírus no organismo) dos animais estudados pela equipe.
Os testes foram feitos com hamsters e camundongos, e também com células cultivadas no tubo de ensaio.
Embora a pesquisa seja preliminar, os especialistas afirmam que há boas chances de a molécula começar a ser testada em breve em seres humanos para enfrentar vírus. Ocorre que ela já alcançou o nível de testes em pessoas para outros fins, como combater tumores.
Por isso, os níveis da substância considerados seguros para seres humanos já são bem conhecidos, entre outros detalhes importantes. Além disso, a indústria já sabe como produzir a substância em grande escala –não será preciso capturar tubarões e lampreias para obtê-la.
ESCUDO
A chave para o sucesso da squalamina está na curiosa interação que ela tem com a membrana que circunda as células. Essa membrana é o portal para o interior da célula e, por ela, entram tanto nutrientes como vilões, como vírus e outros invasores.
A molécula dos tubarões consegue mexer com o equilíbrio elétrico da membrana quando a atravessa. E faz isso sem causar danos aparentes às células que adentra.
Ao fazer isso, ela dificulta a vida dos vírus, porque eles não conseguem “aprender” a se ligar à membrana alterada. Assim, eles têm dificuldade para entrar na célula ou, se já estão dentro dela, não conseguem sair para invadir outras células do organismo.
Um dado importante é que essa atividade protetora da substância parece valer para vários tipos de vírus.
O estudo está na revista científica americana “PNAS”.
Fonte: Reinaldo José Lopes, editor de Ciência e Saúde, Folha.com