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Espécie de lagarto duplica seus genes para viver sem sexo

Dobrar número de cromossomos ajuda a produzir variabilidade na ausência de machos, diz estudo

Uma equipe de pesquisadores nos EUA resolveu o mistério por trás de uma população de lagartos na qual só existem fêmeas que se reproduzem sozinhas, dispensando a fertilização por machos -uma forma de reprodução sem sexo conhecida como partenogênese.

 

Os cientistas descobriram que elas produzem células germinativas -as que dão origem a espermatozoides e óvulos- com o dobro de cromossomos dos lagartos que fazem sexo.

 

Toda reprodução sem sexo é intrigante para aos biólogos, pois a menor variabilidade genética poderia diminuir a capacidade da espécie de se adaptar ao ambiente e lidar com novos parasitas e predadores.

 

Sexo também traz problemas: a eficiência da transmissão de genes cai e há grande custo energético. Mas isso é compensado pela variabilidade genética, que leva a indivíduos potencialmente mais aptos.

 

Os lagartos da espécie Aspidoscelis tesselata vivem no sudoeste dos EUA e norte do México e têm cerca de 10 cm.

 

A equipe liderada por Peter Baumann, do Instituto Stowers de Pesquisa Médica, mostrou que, com o dobro de cromossomos na divisão celular, é possível haver recombinação de genes entre cromossomos geneticamente idênticos.

 

“Nosso trabalho mostra que animais podem abandonar a reprodução sexual, pelo menos por muitas e muitas gerações, se outras táticas forem usadas para gerar e preservar a diversidade genética”, disse Baumann à Folha. O estudo foi publicado na semana passada na revista científica “Nature”.

 

A partenogênese (“nascimento virgem”, em grego) ocorre em plantas e animais, incluindo vespas, peixes, salamandras e répteis, mas não há casos entre mamíferos.

 

“Se estima que 0,1% das espécies multicelulares se reproduzem via partenogênse”, diz Baumann. “Nos lagartos com que trabalhamos há uma incidência muito alta. Cerca de um terço das 50 espécies próximas são partenogenéticas.”

 

O porquê disso é algo que ainda se pesquisa.

 

“Se um animal está bem adaptado ao seu ambiente e este não muda muito, a diversidade genética dentro da espécie se torna muito menos importante do que o grau de reprodução. Uma espécie partenogenética pode se reproduzir mais rápido porque cada indivíduo pode ter crias e não se gasta nem tempo nem energia na busca de um parceiro”, afirma Baumann.

 

Isso ajuda as explicar o porquê de espécies partenogenéticas conseguirem se espalhar e competir com as sexuais em alguns habitats. Basta uma fêmea para colonizar uma ilha, enquanto seria preciso um macho e uma fêmea para fazer o mesmo na espécie sexuada -e eles teriam de se encontrar e “gostar” um do outro.

(Ricardo Bonalume Neto)

(Folha de SP, 17/3)

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