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Marina Silva inclui debate verde na agenda eleitoral

Ex-ministra do Meio Ambiente forçará concorrentes ao Planalto a tratar de temas como aquecimento global e desmatamento

Catarina Alencastro e Eliane Oliveira escrevem para “O Globo”:

 

As eleições presidenciais de 2010 prometiam ser um plebiscito: eleger o candidato do presidente Lula e dar continuidade à atual gestão ou optar por um governo tucano. Mas a disputa teve uma reviravolta com a entrada da senadora Marina Silva (sem partido-AC) no jogo.

 

A ex-ministra do Meio Ambiente, que se filiou ao PV, num segundo passo rumo ao lançamento de sua candidatura ao Planalto, leva para o debate um ingrediente com o qual os concorrentes não contavam.

 

Com Marina no páreo, PT, PSDB e demais partidos que queiram entrar na disputa correm contra o tempo para se preparar para tratar de aquecimento global, eficiência energética e combate ao desmatamento com a mesma naturalidade com que debatem programas sociais e econômicos.

 

– Na hora da campanha, você não tem que apresentar um plano de política econômica? Agora vai ter que apresentar um plano de desenvolvimento sustentável – diz o senador Renato Casagrande (PSB-ES).

 

Marina assume a responsabilidade de mostrar um programa de desenvolvimento sustentável, ou seja, que permita ao país continuar a crescer sem aumentar sua contribuição para as mudanças climáticas e sem desmatar novas áreas da Amazônia.

 

Outra polêmica a ser enfrentada é aumentar a eficiência energética com fontes renováveis.

 

Majoritariamente limpa, com base hidroelétrica, a matriz brasileira vem se sujando com a ampliação de termoelétricas a óleo e a carvão. E a opção pelo transporte rodoviário em detrimento de outros mais verdes, como ferroviário e hidroviário, pesa no volume de gases causadores do efeito estufa que o país emite.

 

– Temos uma vantagem imensurável em relação a qualquer país. É possível criar uma nova narrativa para nossos produtos, nossa produção florestal, nossa energia, que deve ser limpa e certificada – diz Marina.

 

PSDB diz que já discute propostas ambientais

 

Para o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), os futuros concorrentes de Marina não estão prontos para o debate: – Eles têm uma visão ainda industrial. O lado pós-industrial vai ser colocado na campanha, e eles vão ter que se preparar.

 

Segundo o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), o partido discute propostas na área ambiental e promoverá, em setembro, um seminário sobre o tema no Maranhão. Ele não adiantou os programas, mas disse que os dois pré-candidatos, José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), têm ações ambientais importantes em seus governos: – A prioridade na área ambiental é compulsória. Qualquer partido que pretende ganhar as eleições terá que ter políticas claras sobre isso.

 

O petista Jorge Viana, ex-governador do Acre, diz que o próximo governante terá de implementar uma economia com baixas emissões de gás carbônico.

 

O tema é chave nas negociações internacionais. Ao contrário de muitos ambientalistas, ele defende a exploração do pré-sal, que vai ampliar a geração de combustíveis poluentes. Mas se diz favorável a que o novo empreendimento destine recursos para compensar o ambiente: – A gente não tem que criar um desastre para depois cuidar, como fizeram os países desenvolvidos.

 

Podemos criar a infraestrutura necessária com o menor impacto ambiental. Isso já é moderno e nos diferencia dos países desenvolvidos.

 

Para Gabeira, o Brasil deveria estar mais próximo da visão dos europeus, que já percebem a relação intrínseca entre geração energética e aquecimento global.

 

Em países como Inglaterra e Dinamarca, o ministro de energia é também o de clima. No governo Lula, criticou, interesses políticos determinam a diretriz: – O Edison Lobão (ministro de Minas e Energia) não está no governo para pensar um processo produtivo sustentável. Está lá para dar um cargo ao PMDB. Enquanto nos Estados Unidos quem trata do assunto é o Nobel de Física, aqui é o Lobão.

 

“Somos uma potência verde e podemos lucrar com isso” Casagrande concorda que atualmente os avanços na área ambiental têm sido tímidos: – Somos uma potência verde e podemos lucrar com isso, criar empregos verdes, incentivar a energia solar, eólica e movida a biomassa. Temos que investir em ecoturismo, tornar eficiente o setor industrial e capacitar profissionais.

 

Embora a importância estratégica do meio ambiente não seja novidade para os políticos, a necessidade de colocar o assunto no centro da elaboração de políticas públicas é inédita. Essa é a avaliação de Márcio Santilli, do Programa de Políticas e Direito Socioambiental da ONG Instituto Socioambiental (ISA): – O foco tradicional dos partidos é em questões de curto prazo. Historicamente, diz-se que desenvolvimento sustentável não dá voto. Às vezes, uma boa proposta ambiental é vista como algo que tira voto.

(O Globo, 30/8)

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