IPEVS

Porco-espinho pode inspirar nova geração de agulhas

Segundo engenheiro americano, farpas microscópicas presentes nos espinhos de alguns animais tornam a penetração na pele muito mais fácil

“A evolução é a melhor solucionadora de problemas que existe.” O lema de Jeffrey Karp, engenheiro biomédico da Escola de Medicina de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, é a própria definição de seu trabalho. Um exemplo disso é seu mais novo estudo, que acaba de ser publicado no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Com o objetivo de desenvolver dispositivos médicos mais eficientes, como agulhas, ele e sua equipe passaram a estudar as propriedades do porco-espinho americano (Erethizon dorsatum).

Tal roedor é protegido por cerca de 30.000 espinhos. Diferentemente das espécies de porco-espinho de outras regiões do globo, como na África, os animais encontrados nos Estados Unidos têm seus espinhos revestidos por farpas microscópicas. Esse pequeno detalhe é um pesadelo para quem esbarra com os animais. Essas farpas, espécie de lâminas com o gume apontado no sentido oposto ao da agulha, tornam a penetração do espinho mais fácil e sua remoção, mais difícil.

Em testes em peles de porco, os pesquisadores descobriram que os espinhos revestidos com as farpas precisavam de apenas metade da força para penetrar no tecido — a comparação foi realizada com espinhos do mesmo animal, só que com as farpas retiradas. Na hora de remover os espinhos, por outro lado, foi preciso quatro vezes mais força, porque as farpas se enganchavam no tecido.

“Este é o único sistema com essa dupla funcionalidade, no qual um único elemento — as farpas — reduz ao mesmo tempo a força de penetração e aumenta a força necessária de remoção”, disse Jeffrey Karp à revista Nature.

Em entrevista ao site de VEJA, Karp explica uma das possíveis aplicações que o experimento pode trazer no futuro. “Quando se aplica uma injeção, é preciso colocar pressão na agulha para que ela penetre no tecido. Se a pressão necessária para esse processo é reduzida, também se reduz o risco de danos causados pelo excesso de força”, diz. “É uma oportunidade interessante para tentarmos criar uma alternativa sintética.”

porco-espinho pesquisa farpas
Os espinhos do Erethizon dorsatum são muito mais fáceis de penetrar nos tecidos e exigem mais força para serem removidos (JEFFREY KARP, HARVARD MEDICAL SCHOOL)

JEFFREY KARP, HARVARD MEDICAL SCHOOL
Visão microscópica dos espinhos revela em detalhes as pequenas farpas

Fonte: Veja Ciência

Deixe um comentário