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Amazônia: muita diversidade e pouco conhecimento

Para Mauro Armelin é preciso entender estas novas espécies,o papel delas neste habitat e quem sabe transformar tudo isso em ativos econômicos. O número surpreende. Em dez anos, foram descobertas  mais de 1.200 espécies de novas plantas e de animais vertebrados no bioma Amazônia. O montante corresponde a uma nova espécie a cada três dias. Os resultados foram publicados no relatório Amazônia Viva: uma década de descobertas 1999-2009, da Rede WWF. Em entrevista ao iG, Mauro Armelin, coordenador do Programa ao Desenvolvimento Sustentável do WWF-Brasil destaca as dificuldades de ir à campo em busca de novas espécies.

iG: Como são feitas as expedições para descobrir novas espécies?
Mauro Armelin: Não há outra forma de conhecer novas espécies do que ir a campo. A mais usual aqui no Brasil é através dos planos de manejo, quando é preciso conhecer áreas da Amazônia. Nestas expedições nós levamos de 20 a 30 pesquisadores de universidades ou museus de história natural. Normalmente, as expedições nunca levam menos que 15 dias tem esforço de coleta muito grande e muitas vezes temos o apoio do exército para levar os pesquisadores, abrir clareiras na floresta, para os helicópteros descerem, pois, são áreas muito remotas. Os animais servem também como indicadores se a área é bem conservada. Dá para perceber a dinâmica da área.

iG: E que equipamentos vocês utilizam?
Mauro Armelin: Levamos de tudo. Para pássaros, por exemplo, usamos redes especiais, as chamadas redes neblina, que são quase imperceptíveis. Os pássaros ficam enroscados ali, os pesquisadores coletam, analisam e depois devolvem para a natureza. Quando é uma espécie nova, eles acabam ficando com ela para terminar a classificação necessária. Para mamíferos roedores são usadas armadilhas como se fosse uma ratoeira, só que não fatal, que só prende o animal ali.

iG:Que horas as coletas são feitas?
Mauro Armelin: As coletas são feitas durante todo o tempo, cada espécie tem o seu melhor horário. Os pássaros são encontrados com mais facilidade nas primeiras horas da manhã. Alguns roedores saem para se alimentar a noite. A gente tenta buscar os animais justamente nestes horários de alimentação ou reprodução destas espécies para capturá-los.

iG: Como é feita a certificação de uma nova espécie?
Mauro Armelin: É um trabalho exaustivo. Os especialistas batem o olho naquela espécie e identificam se ela é rara, não é raro ou se nunca viram. Aí então eles começam a fazer uma classificação cuidadosa de comparação de características daquele animal ou vegetal. Atrás de cada espécie descoberta há muitas horas de estudo após a coleta.

iG: O alto índice de novas descobertas se deve ao desconheccimento da Amazônia ou a grande diversidade da região?
Mauro Armelin: Existe muito ainda a coletar, conhecer e pesquisar na Amazônia. Para se ter um exemplo, a Floresta Nacional de Altamira é uma área do lado de uma estrada asfaltada, próxima de uma área famosa chamada Terra do Meio – onde morreu a irmã Dorothy [Stang] – e mesmo lá há descoberta de espécies novas. Precisamos ter mais esforço de coleta. Falta muito. Não houve nenhuma expedição que não tenha descoberto um a espécie nova. Eu acho que houve pesquisa de fato em menos de 10% ou 15% da Amazônia Brasileira. O que é muito pouco. Eu acho que nós estamos Nos temos uma área muito extensa fica em países em desenvolvimento, com pouca pesquisa. É uma imensidão e há também pouco esforço de pesquisa.

iG:Qual é importância de descobrir novas espécies?
Mauro Armelin: A importância está em entender o território que a gente tem e também que estas novas espécies são ativos. É preciso entender estas espécies, entender o papel delas neste habitat e quem sabe transformar tudo isso em ativos econômicos. Por enquanto são ativos ambientais, mas futuramente poderão ser ativos econômicos. É o caso do veneno de sapo que é um anestésico fenomenal ou um veneno de cobra que é uma cola muito eficiente usada na forma de adesivos que suturem ferimentos.

iG: Após 10 anos de projeto. Qual é a avaliação e quais são as expectativas do futuro?
Mauro Armelin: A nossa avaliação é de que nós temos pouco registro. Acho que a sociedade dos países amazônicos se apropria pouco do conhecimento que é gerado e também da biodiversidade por si. A expectativa é conseguir aumentar o esforço de coleta, sensibilizar os governos de que nós ainda temos muita coisa a descobrir e também conseguir o apoio mais firme de todos os países para conservar a nossa biodiversidade.

Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/meioambiente/amazonia+muita+diversidade+e+pouco+conhecimento/n1237812516749.html

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