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Aposentadoria de primatas é ameaçada

Chimpanzés de Alamogordo (EUA) não são usados como cobaias desde 2001, mas podem voltar às pesquisas.

O ano de 2011 será decisivo para os chimpanzés. Ou, ao menos, para os que eram usados como cobaias na cidade de Alamogordo, no Novo México (EUA). Após se “aposentarem”, os primatas quase retornaram aos laboratórios no ano passado, mas acabaram ganhando mais um tempo de descanso. 

A polêmica começou no ano passado, quando o NIH (Instituto Nacional da Saúde dos EUA), que pertence ao governo e realiza pesquisas biomédicas, anunciou a intenção de voltar a utilizar os macacos em seus estudos. 

Desde a década de 1950, os chimpanzés da instituição eram cobaias em pesquisas para a cura de doenças, tendo sido expostos a vírus como o da hepatite C e o HIV. 

Em 2001, porém, o NIH decidiu “aposentar” os chimpanzés, desde então, eles vivem como uma grande comunidade primata nos EUA.

Questionado pela Folha, o NIH afirmou que o contrato com as instalações de Alamogordo especifica que, depois de 10 anos, os animais poderiam voltar a ser usados para pesquisas. “Esses chimpanzés nunca foram aposentados”, ressalta o instituto.

Mas o sossego dos bichos pode acabar logo. A idéia é transferir os 184 chimpanzés que habitam o local para instalações no Texas e voltar a utilizá-los em experimentos.

“Cientistas acreditam que os chimpanzés são os únicos modelos animais capazes de possibilitar uma vacina contra a hepatite C, razão mais comum de transplante de fígado nos EUA”, diz o NIH.

A idéia gerou protestos dos defensores dos animais, que se manifestaram para impedir a transferência. “A maioria da população tem idade bastante avançada e está afetada por múltiplas doenças, podendo nem mesmo resistir ao transporte”, afirmou à Folha Laura Bonar, da Associação Protetora dos Animais no Novo México. “Até hoje, não há pesquisas provando que o uso de chimpanzés pode contribuir para a saúde humana”, completa.

Flo, a chimpanzé mais velha do grupo, tem 53 anos de idade. Em cativeiro, os chimpanzés vivem, em média, por cerca de 45 anos.

O movimento também mobilizou grandes nomes da ciência, como Jane Goodall, uma das mais renomadas primatologistas do mundo, e o então governador do Novo México, Bill Richardson.

No dia 15 de dezembro de 2010, senadores americanos escreveram ao NIH. No documento, eles informam que será conduzida uma análise da necessidade de se utilizar chimpanzés em experiências biomédicas e pedem que o instituto aguarde o resultado dessa pesquisa.

Assim, em 2011, o NIH anunciou oficialmente que os chimpanzés restantes permanecerão em Alamogordo até a conclusão do estudo, que deve durar 18 meses.

Brasil não usa chimpanzés em experimentos

Não há divulgação de um estudo oficial que use grandes primatas para experimentos biomédicos no Brasil. A informação é de Rosangela Ribeiro, que faz parte da Sociedade Mundial de Proteção Animal no Brasil.

“Aqui, são utilizados principalmente camundongos, ratos, hamsters, coelhos e, recentemente, porcos. Já o uso de cães e gatos tem sido reduzido”, afirmou ela à Folha.

“Isso não significa que eles serão tratados de forma inapropriada. Há regras de conduta para a realização de pesquisas sérias”, diz a professora Mariz Vainzof, do Instituto de Biociências da USP.

Os EUA, seguidos pelo Gabão, são os campeões no uso de chimpanzés em pesquisas, já proibido na União Européia.

(Luiz Gustavo Cristino)

(Folha de SP, 15/1)

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