IPEVS

Florestas primárias são insubstituíveis para a manutenção da biodiversidade tropical

Foto: Mater Natura
Recuperar a variedade de plantas e animais de uma floresta é muito mais difícil do que se imaginava. Isso se, de fato, for realmente possível. Há décadas pesquisadores de vários países tentam descobrir o que seria mais eficiente para manter a biodiversidade: focar as iniciativas na preservação das florestas primárias, com o mínimo possível de alterações pelas atividades humanas, ou recuperar áreas que já sofreram alguma modificação pelo homem, entre elas as florestas secundárias. Para quem não é especialista, a resposta mais óbvia seria: nada substitui as florestas primárias em termos de biodiversidade. Mas, os pesquisadores tinham dúvidas, pois estudos sugeriam que as florestas secundárias poderiam conter uma variedade de espécies tão relevante quanto às originais.

Agora, uma nova pesquisa denominada “Primary forests are irreplaceable for sustaining tropical biodiversity” publicada no dia 14 de setembro no site da revista Nature, reforçou a tese de que as áreas de floresta primária são mais ricas em biodiversidade. Tendo por base 138 pesquisas realizadas em 28 países da América, Ásia, África e Oceania, os pesquisadores efetuaram 2.200 comparações entre florestas primárias e secundárias. O objetivo desta análise global, que possivelmente é a mais ampla sobre o assunto, foi medir os efeitos variados de uso da terra e da degradação florestal sobre a biodiversidade em florestas tropicais.

Foram analisados 12 tipos de interferências humanas que afetam de modo diferente os ambientes florestais. A prática mais agressiva é o uso do fogo, muitas vezes para abrir espaço para a agricultura, enquanto a que oferece menos risco para a biodiversidade é o corte seletivo. A retirada de apenas 3% das árvores de uma floresta já afeta a variedade de espécies do local. A monocultura de árvores de crescimento rápido, como o eucalipto, outra perturbação causada pelo ser humano ao ambiente, também é um problema para a biodiversidade, principalmente em locais como a Ásia e o Brasil.

Conforme demonstraram os pesquisadores liderados por Luke Gibson, da Universidade Nacional de Cingapura, a biodiversidade das florestas tropicais é muito afetada pela degradação da natureza. E, ao contrário do que se imaginava até agora, as florestas secundárias, como é chamada a vegetação que nasce após corte de árvores ou o desmatamento, não são substitutas à altura das florestas primárias. Ou seja, as florestas degradadas e secundárias não oferecem a mesma biodiversidade ao ambiente. “Nós mostramos que as florestas secundárias são invariavelmente pobres quando comparadas às florestas primárias não degradadas. Por isso, devemos fazer o que for possível para proteger as florestas primárias remanescentes”, disse Gibson.

A dimensão da perda de biodiversidade depende de fatores como região geográfica, grupos taxonômicos e tipo de intervenção humana. De acordo com o trabalho, as florestas tropicais da Ásia são mais sensíveis às transformações impostas pelo homem do as matas das Américas. Os diferentes grupos de animais, igualmente, respondem de forma distinta: os mamíferos, de modo geral, são mais resistentes às mudanças, ao passo que as aves são sensíveis.

Segundo Carlos Peres, professor da Escola de Ciências Ambientais da Universidade de East Anglia, um dos autores do artigo, os dados indicam que o tempo para a recuperação da biodiversidade varia bastante conforme o histórico de perturbação e a paisagem onde as manchas de mata primária estão inseridas, mas em alguns casos a diversidade de espécies pode demorar séculos para ser restabelecida.

Regiões degradadas podem se recuperar sozinhas, mas reflorestar usando espécies nativas ou de outros ambientes é um trabalho lento, que pode durar séculos. “Áreas de mata atlântica secundárias com cerca de 400 anos no Paraná ainda não têm o perfil de espécies de plantas de regiões primárias”, alerta Peres. Outro exemplo clásico é a região do Petén, no norte da Guatemala (foto). Quando os espanhóis chegaram, o local era tomado por milharais do Império Maia. Hoje, mais de 500 anos depois, uma floresta vigorosa tomou o lugar, mas em termos de biodiversidade não chega nem perto do que poderia ser uma floresta primária da América Central, que estava lá há milhares de anos, antes da chegada da agricultura dos Maias.

Mas, o norte-americano Thomas Lovejoy, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), no Brasil, e do Centro H. John Heinz III para Ciência, Economia e Meio Ambiente, nos Estados Unidos, também coautor do estudo, não retira a importância do reflorestamento. “Reflorestar garante a sobrevivência de muitas espécies e a manutenção de serviços de ecossistemas como foi feito com a Floresta da Tijuca, área degradada de mata atlântica no Rio de Janeiro que foi replantada”, afirma.

O estudo da Nature reflete uma escassez de informações sobre a maior parte da biodiversidade tropical. “Praticamente não há pesquisas sobre florestas de vários países africanos e asiáticos”, diz Peres. De acordo com o estudo, também faltam trabalhos sobre grupos de plantas, invertebrados e vertebrados em mosaicos de floresta primária e áreas adjacentes de floresta degradada.

 

Fonte: Mater Natura

Deixe um comentário