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Prédios “verdes” ganham mercado

Obras com projetos para economizar água e energia, e que usam materiais de origem sustentável começam a sair das pranchetas. E os especialistas garantem: ao longo do tempo, o investimento compensa

Aos poucos, as chamadas “construções sustentáveis” começam a ganhar terreno no Brasil. Nem tanto pelos raros incentivos governamentais; um pouco por preocupação com o meio ambiente e pela vantagem de mercado que ela proporciona; e muito por uma questão que interessa a todo empresário: na ponta do lápis, os “prédios verdes” dão menos despesa. Podem até custar mais caro no começo, mas depois reduzem consideravelmente as faturas de água e luz.

Quatro edifícios brasileiros já têm a certificação LEED (Liderança em Design Energético e Ambiental, na sigla em inglês), a mais famosa do mundo, concedida pelo United States Green Building Council (USGBC), o conselho norte-americano de “construções verdes”. Outros 55 prédios, em construção ou projeto, se habilitaram. Há três curitibanos na lista. Um deles é o Curitiba Office Park, que a Thá Engenharia está erguendo às margens da Linha Verde. Os outros dois, o Mariano Torres Corporate e o Aroeira Office Park, que solicitaram registro recentemente, ainda não foram lançados.

Para muitas empresas, interessa exibir a seus clientes um selo que ateste seu comprometimento com a responsabilidade ambiental. Mas um bom projeto não precisa, necessariamente, de certificação – e, com ou sem esse aval, empreendimentos do gênero pipocam Brasil afora. “Hoje não se fala mais em projetos imobiliários de porte sem que estejam muito claros todos os aspectos da sustentabilidade”, diz Frederico Carstens, diretor de sustentabilidade da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBea) no Paraná.

Exemplos

Em Curitiba, um dos exemplos mais recentes é o do hipermercado Condor da Avenida das Torres, aberto em dezembro. Desenhada pelo arquiteto Waldeny Fiuza, a loja usa lâmpadas 45% mais econômicas, capta água da chuva – usada na descarga de vasos sanitários, na lavagem de pisos e na irrigação dos jardins –, e foi feita com materiais de fácil manutenção, que demandam menos água e produtos de limpeza. Segundo Fiuza, o painel isotérmico das paredes e do teto conserva a temperatura interna, reduzindo em pelo menos 30% o uso de ar condicionado.

A Universidade Federal do Paraná (UFPR) também entrou na onda dos prédios sustentáveis. Com consultoria da arquiteta Cris Lacerda, da AsBea, a instituição vai alterar o projeto do novo edifício dos Laboratórios Integrados de Genética Humana, no Centro Politécnico, para adequá-lo aos conceitos de sustentabilidade – e registrá-lo na LEED.

Calculadora

As estimativas de custo inicial e de redução de consumo em prédios sustentáveis variam, e muito. Erguer um deles pode custar 10%, 30% ou mesmo 50% mais que construir um convencional, mas há quem defenda que, com um bom projeto, dá para fazer pelo mesmo preço. De todo modo, um prédio verde sempre “se paga”. Consome, em média, 30% menos água e energia elétrica, e, segundo o Green Building Coucil Brasil, em 20 anos seu valor de mercado aumenta cerca de 20% acima da variação média do setor imobiliário de determinada região.

André Glogowsky, diretor-presidente da construtora paulista Hochtief, conta que a construção de um “prédio LEED” é de 1% a 7% mais onerosa. Inaugurada há dois anos, a agência do Banco Real em Cotia (SP) – primeiro edifício sul-americano a conquistar a certificação – custou 30% mais do que uma construção convencional. Mas, segundo os responsáveis pelo projeto, boa parte disso foi por conta do “custo do aprendizado” e da escassez de fornecedores e produtos adequados na época. Segundo eles, hoje a diferença para uma obra comum não chegaria a 10%.

“O custo depende da sofisticação desejada. Painéis solares para geração de energia, por exemplo, encarecem bastante. Mas, com um nível médio de sofisticação, o projeto não fica mais caro”, explica o arquiteto Waldeny Fiuza. “No Condor, usamos dois mil metros quadrados de painel isotérmico, feito de aço e poliuretano. E ficou mais barato do que se usássemos a alvenaria convencional.”

Para Carstens, da AsBea, “a boa arquitetura sempre foi sustentável”. “Um empreendimento tem que ser eficiente já na planta. Se a orientação do prédio em relação ao sol não for boa, por exemplo, você terá que acrescentar uma série de itens ‘artificiais’ para equilibrar a situação. E aí encarece mesmo.”

Aquecedor solar reduz em até 70% o gasto de energia

A principal “ferramenta” do governo federal para estimular a eficiência energética é a Caixa Econômica Federal, que financia mais de 80% das unidades habitacionais vendidas no país. O banco estuda embutir, nos financiamentos da casa própria, o custo para a instalação de aquecedores solares de água – que dispensam o uso do chuveiro elétrico, maior vilão do consumo nacional. A Caixa já financia esse tipo de equipamento, mas em separado.

“Na habitação de interesse social, o aquecedor aumenta o custo da casa entre 8% e 25%. Esse custo ainda é impeditivo para famílias com renda de até três salários mínimos”, admitiu o gerente de meio ambiente do banco, Jean Rodrigues Benevides, durante a Ecogerma, feira da área de meio ambiente realizada em São Paulo no mês passado. “Mas, depois de instalado, o aquecedor diminui o gasto com energia elétrica. Se for embutido no custo do financiamento, ficará mais compensador para o mutuário.”

Segundo ele, em Minas Gerais – onde está sendo executado um projeto-piloto de habitações populares que utilizam o aquecimento solar –, a conta de luz paga por uma família de quatro pessoas, cada uma tomando um banho de 12 minutos por dia, fica em R$ 46,14 com o uso do chuveiro elétrico. Com a instalação do aquecedor solar, a conta mensal dessa mesma família cai para R$ 13,84 – uma diferença de 70%. Considerando-se um aquecedor com custo de R$ 1,5 mil, o retorno do investimento se dá em quatro anos.

Fonte: Gazeta do Povo

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